quinta-feira, setembro 28, 2006
Foto: Andrzej Jacubczyk


Levanto-me a correr. Corro para o banho, do banho para o quarto, do quarto para a cozinha (onde bebo um copo de leite a correr). Faço uma festa no cão, a correr.
Saio a correr e meto-me no trânsito. Chego ao escritório, onde entro em passo acelerado, quase a correr.
À hora de almoço, corro para conseguir fazer tudo o que preciso: vou à farmácia, ao banco, aos correios. Só tenho tempo para comer uma sandes a correr.

Durante a tarde, corro de reunião em reunião, de documento em documento, de chamada em chamada.

Saio do escritório já tarde, por isso corro para o supermercado, que está a fechar. Compro o básico, a correr. Corro para a caixa. Ponho as compras no saco, a correr, e saio.
Lá fora começou a chover. Abro o guarda-chuva e corro para o carro.


O dia está quase a acabar, mas quero correr só mais uma vez... agora para os teus braços.
Fazes-me uma festa, o tempo pára e eu adormeço, em paz. Amanhã será outro dia. A noite passa a correr.
 
By Joana @ 11:29 da manhã | 2 notas com outras assinaturas
quarta-feira, setembro 27, 2006

Foto: Piotr Kosiba



Dança em mim, o tempo. Vai passando lentamente por aqui, como uma corrente que leva bocadinhos do que fui e do que sonhei ser, sem dor. Estou meio atordoada e ainda tenho sono. Esta nuvem suave de fumo que se instalou aqui não me deixa ver os meus pés. Quando souber onde aterrei digo-te.

Com o tempo e em mim, dançam também muitas outras coisas, a maioria nem sei o que são, de onde vieram, e se realmente dançam ou se apenas passam e olham, como transeuntes curiosos. Reconheço memórias, sonhos, caminhos e alguns sorrisos. Olha, aquele ali no canto, acho que era meu!

Eu não consigo fazer nada se não estiver a ver os meus pés e também um bocadinho da estrada ou do chão que eles pisam. Às vezes olho para trás, só para ver se o mar ainda não apagou as minhas pegadas.

Entretanto, e por tudo isto, vou deixando continuar esta dança, em mim, sem me mexer. Vejo a vida a fazer piruetas e o tempo fora de ritmo, mas não passo de uma espectadora.


E tu? Não quero que dances em mim, como tudo isto. Hoje (e só hoje, ou talvez não), quero que dances comigo...

E já agora, se não for pedir demais, será que
depois posso ter também uma massagem nos pés?
 
By Joana @ 6:39 da tarde | 2 notas com outras assinaturas
domingo, setembro 24, 2006

Foto: Shannon Richarson


Entrou de repente e sem pedir licença. Trouxe com ele novas cores, novos cheiros, novos sabores. Eu já tinha saudade, mesmo sem saber.

Ficam agora cada vez mais distantes os dias que não acabavam nunca, as noites mal dormidas, passadas a céu aberto e os passeios na praia.
As cigarras já não cantam, e vão agora arrepender-se de não terem feito outra coisa o Verão inteiro.
As folhas desta árvore já amareleceram. Em breve irão cair e apodrecer no chão. Eu vou guardar uma, a mais bonita, dentro daquele livro pesado que nunca mais acabo de ler, para me lembrar de ti (que, como ela, caiste).

Na mudança de estação, todas as coisas são apenas e só elas próprias: o céu é o céu, o mar é o mar, eu sou eu, o sol é quase nada e um beijo é um beijo (não é uma promessa).

Ouvi ontem na rádio que o Outono começou no dia 22 às 5 e qualquer coisa; Mas ao fim da tarde, quando o sol se põe, o Vento Norte ainda cheira a Verão...
 
By Joana @ 9:48 da manhã | 21 notas com outras assinaturas
domingo, setembro 17, 2006
... que estão a levar a minha cabeça para as nuvens. Devagarinho, sem pressas...
E eu deixo-a andar, ao sabor do vento. Flutua, choca com as nuvens, dança por entre as estrelas.

O coração? Já não sei bem por onde anda. Perdi-o há uns meses atrás e desde então nem um telefonema a dizer onde está, para me deixar mais descansada. Mas ele volta... Volta sempre. Já o conheço.

Os pés? Agora estão aqui, ainda doridos de um chão que nunca deviam ter pisado, mas bem presos à terra; No lugar deles. Talvez para a semana (ou para a outra, ou para a seguinte; Não importa) dê um saltinho, para voltar a sentir por uns segundos o sabor de uma liberdade tão apetecida. Sei que posso, a gravidade vai encarregar-se de os trazer de novo para onde devem (ou podem) estar.


Agora vou ali sentar-me do teu lado da cama, agarrar na tua caixinha de música e confirmar, com uma lágrima tímida, que de olhos fechados e tocada assim, "La Vie en Rose" ainda me faz sonhar.


"Num Mundo onde tudo parece estar certo
Guardo os defeitos que me atam ao chão"
Fim, Toranja

Foto: Sara P

 
By Joana @ 6:28 da tarde | 0 notas com outras assinaturas
sexta-feira, setembro 15, 2006



Hoje li uma frase lindíssima aqui (um blog onde às vezes aparecem umas coisas que gostava de ter sido eu a escrever). Gostei tanto dela que quis vestí-la também. Hoje uso-a como se fosse minha e faço dela a minha bandeira.

"Dois menos um é igual a zero. Mas só se eu quiser"


 
By Joana @ 12:16 da tarde | 2 notas com outras assinaturas
segunda-feira, setembro 11, 2006

Foto: Eddy McDonald




Sorrateiramente, vou deslizando até ao teu colo. Encosto a cabeça e aninho-me por ali.

A luz laranja intermitente que vem da lareira, parece ritmar os sonhos e as recordações, misturando-os numa suavidade que se estende por toda a sala e por nós dois. O frio e o escuro ficaram lá fora, e vão batendo de vez em quando na nossa janela. Acho que não querem entrar, mas insistem em lembrar-nos que lá estão.

Tu passas-me a mão pela cabeça, com a ternura do costume. Eu agradeço com um fechar de olhos lento, de quem há muito se rendeu ao teu tocar. Este colo é um porto seguro quando estou assim, sossegada, em paz comigo, contigo, connosco, com os outros. Nestas alturas, essas mãos já não são amarras, mas sim uma leve brisa que vem do mar e que conta histórias que me fazem dormir e sonhar.

Hoje quero apenas ficar aqui, com esta luz e neste calor. Sei que amanhã vou acordar, dar-te um beijo e partir. Sei que amanhã voltarei a morrer.

Ainda me restam quatro vidas, por enquanto posso dar-me a estes pequenos luxos. Depois?... Logo se vê...

 
By Joana @ 11:30 da manhã | 7 notas com outras assinaturas
quinta-feira, setembro 07, 2006

Foto: zoRRo


Decidi fugir. De forma transparente e assumida, sem qualquer clandestinidade. Tu sabes. Sim, de vez em quando olho para trás, para os lados, em volta. Mas fujo. Decidi fazê-lo há algum tempo e agora já não posso voltar atrás.

Aproveito cada nuvem, cada árvore, cada sombra, para me esconder. Por breves minutos, descanso o corpo já cansado, em paz, e continuo a saltitar cuidadosamente de pedra em pedra, redobrando-me em olhares atentos. Um passo em falso poderia originar uma queda aparatosa. Fujo. Aliás, vou fugindo.

Nem sempre fugir implica termos algo a perseguir-nos. Fujo de mim. Fujo de ti, mesmo sabendo que não estamos a jogar à apanhada nem às escondidas... nem a nada.

Quando não avisto esconderijos (mas tenho de avançar sem muito medo), tento enganar os meus sentidos: ponho mais perfume (inclusive um bocadinho mesmo debaixo do nariz) e uma flor fresca atrás da orelha, para não sentir outros cheiros que não estes. Falo muito (ainda mais!) para não conseguir ouvir o que me rodeia. Uso casaco e calças e ando com as mãos nos bolsos, para não sentir ninguém, nem mesmo quem passa demasiado perto. Não uso óculos; evito locais altos (e saltos) para diminuir o meu campo de visão.

E ainda assim, mesmo sem luz suficiente, mesmo quando estou distraída e não olho em redor... vens fazer-me umas cócegas irritantes no canto do olho e nadar no meu copo de água. Não volto àquele bar. Eu fui bem clara: "um café e um copo de água, se faz favor". Não pedi mais nada.


Só gostava que alguém me explicasse (pode ser o Menino, Jesus, que me parece que terá alguma coisa a ver com isto) porque é que, se andamos os dois a fugir, nos apanhamos tantas vezes.
 
By Joana @ 1:25 da manhã | 9 notas com outras assinaturas
terça-feira, setembro 05, 2006

Odeio jantar!

Odeio jantar.... sozinha!

Odeio jantar sozinha... no escritório!

Odeio jantar sozinha no escritório... e depois continuar aqui!

Odeio jantar sozinha no escritório e depois continuar aqui... a trabalhar!

Odeio jantar sozinha no escritório e depois continuar aqui a trabalhar... até às tantas!

Odeio jantar sozinha no escritório e depois continuar aqui a trabalhar até às tantas... principalmente quando amanhã tenho uma reunião às 9 horas!


O que vale é que nestes Gigas de memória, tantas vezes apagados e reescritos, ainda há espaço para ti. Estás à distância de alguns cliques. Hoje vieste esconder-te na minha coluna e ficaste ali dentro a fazer-me companhia... Eu cantei contigo, repetidas vezes.

Acho que é (também) a este pó que os loucos e os sábios chamam de Amizade. Eu vou espirrando de vez em quando, para nunca me esquecer.
 
By Joana @ 11:05 da tarde | 2 notas com outras assinaturas
segunda-feira, setembro 04, 2006



Há vantagens em ter esta cabine telefónica mesmo aqui em frente do escritório: rapidamente me transformo, deixando para trás as calças pretas e a camisa vermelha, que substituo pela mini-saia estilo Morangos com Açucar, pelo top e, claro, pelo bikini. Hoje escolhi o preto.

Quando cheguei à praia, o mar revoltou-se só para mim. Ainda consegui ver a bandeira vermelha a ser asteada, como um sinal elevado bem alto. Ignorei-o. Tive apenas um bocadinho de bom senso, que me fez não mergulhar, para não molhar o cabelo: reentrar no escritório com ele molhado poderia levar à remoção da minha cabine telefónica.
Foi uma hora e meia fantástica. Sem vento, sem nuvens, sem gente. Só eu, o sol, o mar e a bandeira vermelha.

De repente, e sem aviso prévio, chegou o vento. Com força, como é habitual aqui no Guincho. Olhei para o relógio. Se o tivesse feito 5 minutos mais tarde, teria chegado atrasada. Agradeci ao vento o aviso e resolvi apanhar uma boleia sua até ao escritório.
Enquanto voava, ainda tivémos tempo para uma conversa:

- Sabes, quando alguém se afasta, é porque não gosta de nós na quantidade certa: ou gosta de mais, ou gosta de menos, disse-me ele, assim do nada, como que a ler os meus pensamentos que dançavam longe dali.
- E como é que sei se é de mais ou de menos?
- Não sabes. Nem interessa. A quantidade não está certa, é tudo o que precisas de saber.

Agredeci as palavras sábias e a boleia. Tínhamos chegado. Foi tão rápido!

Passei novamente pela cabine e entrei no escritório um minuto antes do patrão.


A minha camisa vermelha está a colar-se ao corpo, por causa do sal. Devia ter dado ouvidos ao mar, como ao vento. Se não posso confiar em mim e no meu instinto, tenho de aprender a ouvir os sinais que me enviam e a deixar-me empurrar e puxar pelas forças da natureza.

Amanhã trago o bikini amarelo.
 
By Joana @ 2:53 da tarde | 7 notas com outras assinaturas
sexta-feira, setembro 01, 2006
Foto: Stefania Ruzzi

Os nossos sorrisos cresceram juntos.

Partilhámos sonhos e crenças, trocámos ombros. Cantámos, dançámos, vivemos, rimos, chorámos... e voltámos sempre a sorrir.
Com o tempo, fomos aprendendo a fazer das nossas diferenças o nosso trunfo, que jogámos tantas vezes. E sorríamos. Sempre.

Quero que voltes a descobrir essa luz que, de uma forma tão natural e sentida, te iluminava o rosto. Quero que voltes a andar com a mesma força, de cabeça erguida (só assim consegues ver mais longe). Se for preciso põe os óculos.
Por hoje, só quero que reaprendas a sorrir. Com a boca, com os olhos, com o corpo todo. Com o coração!

E já agora... quando souberes, ensinas-me?


[Para a minha Amiga que acredita (e mostra) que nenhuma distância é maior do que nós. Sempre aqui.]
 
By Joana @ 12:21 da tarde | 2 notas com outras assinaturas