quarta-feira, fevereiro 28, 2007



... é este fragmento de ti, que roubo quando vais embora, e que trago sempre comigo (às vezes sem saber).







 
By Joana @ 1:48 da tarde | 2 notas com outras assinaturas



[Para dois "alguéns"]



Foto: Tomasz Konstrat

As tardes da minha infância foram passadas, na sua grande maioria, em casa da minha avó. Ali tinha tudo: um piano (que ela adorava ouvir, e onde comecei a descobrir o meu lado auto didacta), imensos livros sobre os países europeus (que ela complementava com descrições das suas viagens), guaches e canetas de todas as cores para colorir folhas e sonhos, muito afecto e acima de tudo, um grande exemplo para seguir, ainda hoje tão presente nos meus genes e nas minhas memórias.

Um dia, talvez em sonhos, disse à minha avó: "Hoje apetecia-me jogar a um jogo qualquer...". Ela olhou para mim, com uma ternura de cor séria, e respondeu: "Está bem. Mas tens de me prometer que nunca te esqueces que devemos jogar apenas o suficiente para nunca esquecermos a criança que somos; Não podemos jogar demais, sob pena de já não sabermos o que é jogo e o que não é." Ficou calada uns segundos, e depois continuou: "Tens de saber sempre com quem, ou contra quem, podes jogar. Podes jogar contigo, não podes jogar contra ti.". Prometi e ela ensinou-me a jogar canasta.


"Só quero ficar a sentir o filme e a música", foi a resposta que o meu amigo me deu à pergunta "Queres alguma coisa? Posso oferecer-te água, sumo, coca-cola, martini, ...?".
Lembrei-me que talvez as regras que a minha avó me ensinou para os jogos se apliquem ao sentir de memórias. Apenas e só o suficiente para não esquecer o que vivemos e o que aprendemos.
Quero que corras atrás da Vida sem jogar à apanhada, que encontres sempre as pessoas certas para jogar e que não te elejas a ti como companhia para jogar às escondidas. Hoje lanço-te um desafio: sê Feliz! "Cap ou pas cap?"



 
By Joana @ 10:59 da manhã | 2 notas com outras assinaturas
segunda-feira, fevereiro 19, 2007
Foto: Agatha Katzenprung



Já estavas deitado. Pus-me de joelhos em cima da cama e perguntei, num tom misto de ternura e provocação "Estás a ver esta nódoa negra pequenina que tenho aqui na perna? Vais assiná-la, ou vais deixá-la assim?"

Tu olhaste para mim, sorriste, e perguntaste baixinho, ao mesmo tempo que me puxavas para mais perto, "Por acaso assinei os sorrisos?".

Respondi-te com um beijo. E outro. E outro. E um abraço. E ali ficámos. Já nem sei de quem é esta nódoa negra, se minha, se tua.



No dia seguinte, quando acordei, tinhas saído. Eu ainda fiquei a dormitar mais um bocadinho, agora com o meu pensamento:

"Será que sabes que as marcas mais importantes que já deixaste, são invisíveis aos olhos?"
 
By Joana @ 5:46 da tarde | 0 notas com outras assinaturas
quarta-feira, fevereiro 14, 2007


Foto: M


Hoje estou aqui debaixo de água, quieta, à espera não sei bem de quê.

Aqui tudo se move mais devagar, tudo flutua e desliza. A vida não passa a correr por entre os dedos, sem darmos sequer conta disso. Só a água vai passando entre eles, lentamente, à velocidade dos meus movimentos.

Aqui não respiro. Não penso. Não vejo. Não oiço. Aqui as palavras não existem, não magoam. Aqui só existo eu, a água, e estas bolhinhas pequeninas que saem da pele e me vão percorrendo todo o rosto, com a mesma calma de tudo (ou nada) o que aqui existe.


Abro os olhos e vejo à minha frente aquela mão que já aprendi a reconhecer em qualquer local: A tua. Agarro-a com força e ela puxa-me para a superfície. Tu já estás à minha espera, com uma toalha seca e macia (acho que é castanha) e o sorriso protector do costume (o das covinhas giras e do olhar cor-de-luz). Envolves-me com a toalha, dás-me um beijo na testa ao mesmo tempo que me fazes uma festa no cabelo molhado, e dizes baixinho:

"Anda, já é tarde... vamos dormir".
 
By Joana @ 12:05 da manhã | 0 notas com outras assinaturas