segunda-feira, janeiro 22, 2007
Foto: Magda Rzym


O vento forte de ontem fez a minha casa levantar voo. A rodopiar, em turbilhão, senti-a erguer-se do chão. Aquela força da Natureza apanhou-me de surpresa. A minha casa não estava preparada para ser abanada daquela maneira. Ficou tudo desarrumado, tudo misturado... uma confusão. Papéis espalhados, prateleiras de CDs vazias, loiças partidas... até as velas se apagaram. E logo agora, que eu pensava que tinha conseguido finalmente arrumar a casa.

Quando tudo acalmou e a casinha voltou a "aterrar", abri a porta e saí para a rua... que já não era a minha. Mesmo em frente, poisados no chão, estavam uns sapatos vermelhos. Calcei-os e, como que por artes mágicas, apareceu uma Estrada de Tijolos Amarelos. Esta eu conheço, sei quem a construiu, e sei bem onde vai dar. Estes truques de magia não são assinados por qualquer um... Avancei, sem medo.

Desta vez deixei o Leão, o Espantalho e o Boneco de Lata pelo caminho, e fui sozinha, rumo ao fim da estrada... Lá longe, já conseguia ver o seu Castelo. "Hoje vou só até lá dar-lhe um Beijo, adormecê-lo, e depois volto", disse baixinho. E fui... Estrada fora, sem pressas, com os meus sapatinhos vermelhos, a cantarolar uma melodia familiar.


"Somewhere over the rainbow

Skies are blue

And the dreams that you dare to dream

Really do come true"
 
By Joana @ 1:01 da tarde | 0 notas com outras assinaturas
terça-feira, janeiro 16, 2007




Era uma vez (todas as histórias começam assim, não é?) uma Princesa.


Mas esta não era uma Princesa qualquer. Quando ainda era criança, uma Bruxa muito má lançou-lhe um feitiço (como em todas as histórias, apenas quebrável pelo Príncipe Encantado) que fazia com que a Princesa tivesse uma relação conflituosa com o Tempo. O Passado nem sempre era Passado, o Futuro nem sempre era Futuro. O Presente era Presente, mas quase sempre indesejado.


Para protegerem a sua Princesa das tristezas que lhe poderiam ser dadas pela sua maldição, os Reis colocaram-na numa Torre, onde cresceu. No dia em que fez 18 anos, convidaram todos os Princípes dos reinos vizinhos para um baile. Um a um, vieram conhecer a Princesa, mas nenhum lhe conseguiu sequer roubar um sorriso. No dia seguinte, a Princesa do Tempo fugiu.

Andou uma semana a vaguear pelos bosques, até que foi encontrada por uma velha aldeã, que a acolheu em sua casa.

Um dia, à noite, a velha aldeã aproximou-se da Princesa, que chorava ao pé da lareira. Passou-lhe a mão pela cabeça e disse-lhe:

"Princesinha, não sei se as Saudades que te fazem chorar são da tua Torre, onde cresceste, ou do Futuro que julgas conhecer. Sei que foste amaldiçoada quando eras criança. Deixa esta velha dar-te um conselho: não procures desfazer a tua maldição, aprende antes a viver com ela. Sabes, Princezinha, há um tempo certo para tudo... até mesmo para quebrar feitiços.". E deixou-a sozinha, com a luz quente da lareira a dançar na lágrima que lhe percorria o rosto.


Desde então, a Princesa adormeceu todos os dias ao som dessa frase melodiosa. E sorria.


"Há um tempo certo para tudo... até mesmo para quebrar feitiços."


 
By Joana @ 9:59 da manhã | 3 notas com outras assinaturas
segunda-feira, janeiro 15, 2007
Foto: Johrne Stubbe



Fui ter com ele à praia, como combinado. Cheguei mais cedo, mas ele já lá estava, sentado numa rocha, virado para o mar. Aquele cabelo grisalho era inconfundível, até para o meu olhar míope e ainda ensonado.


Aproximei-me e pus-lhe a mão no ombro, em silêncio. Senti-o sorrir. Segurou a minha mão e disse-me "Vou-me embora", sem nunca deixar de olhar para o mar. Eu não disse nada, apenas esbocei um sorriso. Levantou-se, deu-me um abraço com cheiro a saudade, e lá foi, rumo ao horizonte.

À medida que o barco (ou seria uma casca de noz?) se ia afastando, o Velho Sábio acenava-me, sempre a sorrir. Na outra mão, segurava a Caixa de Magia, que trazia sempre com ele, para me fazer sorrir.


Sr. Sábio, esqueci-me de lhe perguntar uma coisa: quem parte a acenar, está a dizer-nos "Adeus" ou "Até já"?
 
By Joana @ 3:16 da tarde | 2 notas com outras assinaturas
quarta-feira, janeiro 10, 2007
Foto: Hanssolcer



Voltar a casa, aquela onde crescemos. Voltar a ser criança. Voltar a crescer... só mais um bocadinho. Voltar a acreditar, em nós, nos outros, em tudo o que nos rodeia e preenche os nossos dias. Voltar a sorrir. Voltar-me para ti e voltar a abraçar-te. Voltar a sentir. Voltar.

Ainda há quem parta, só para um dia poder voltar.



Acordei ao teu lado. Agora já não tenho medo de fantasmas (nem dos que brilham no escuro). Afinal estiveste sempre lá. Nunca partiste. Nunca voltaste.


"No me haggas llorar, que los fantasmas no lloran"

 
By Joana @ 11:24 da manhã | 1 notas com outras assinaturas
quarta-feira, janeiro 03, 2007


Foto@sapo / Paulo M. Guerrinha ( "O último Pôr-do-Sol de 2006")



Escolhi criteriosamente um saco e coloquei nele tudo o que não quero guardar: medos, frustações, incertezas, lágrimas das que não nos levam a lado nenhum (nem sequer nos fazem crescer), inseguranças, saudade, nódoas negras, arranhões e algumas memórias.
Amarrei o saco ao Sol, e pedi-lhe que levasse tudo com ele. Com um sorriso no rosto, assisti à sua descida triunfal. Naquele dia pintou-se de cores novas, mais bonitas do que nunca, para dar lugar à noite.

Adormeci.

No dia seguinte acordei com a tua mão à procura da minha. Sorri... e depois voltei a adormecer. Sem pesadelos. Sem preocupações. Em paz.
 
By Joana @ 12:04 da tarde | 1 notas com outras assinaturas