quarta-feira, julho 19, 2006

Nasci nesta terra de marinheiros. Aqui, tal como o vento, ninguém está, tudo passa. Aqui, nada, excepto eu, é eterno e certo. É um porto seguro para aqueles que aprenderam a ler as estrelas e as nuvens e um porto de abrigo para os menos aventureiros, que não ousam navegar em dias de tempestade.
Mas é apenas e só um porto.

Depois de semanas de cálculos, estudos e preparativos, está tudo pronto. Ajudei-te a planear esta viagem sem destino, fiz-te a mala e dei-te as minhas asas (que agora já não me fazem falta), para o caso das velas te deixarem ficar mal. Levas tudo o que precisas e também um bocadinho de mim... nunca se sabe, guarda, podes precisar e eu a mim não me faço falta nenhuma.

Parece que ainda ontem chegaste, com o barco quase tão vazio como a alma e as velas rasgadas de um enorme temporal. Podias ter morrido, sabias?? Hoje levas as feridas quase curadas (a maresia tratará do resto) e a coragem restaurada... a alma está novamente cheia de sonhos e o barco até parece outro.

"Não sei para onde vou. Só sei que não posso ficar". Depois do abraço forte da praxe, embarcaste sem olhar mais para trás. Ainda bem, assim podes dizer sem mentir que não sabes que até as minhas lágrimas são cor-de-rosa.

Eu fiquei no cais, com a saia e o cabelo ao vento, e a alma a esvoaçar. Recordei as histórias de piratas e tesouros ao som das quais cresci, à procura de uma razão que me fizesse acreditar que tudo isto faz sentido. Não encontrei. No momento em que cruzaste a linha do horizonte, levaste o sol contigo, em perfeita sintonia.

Já com frio, fui para casa a trautear a melodia mágica que a minha avó me ensinou e que ajuda os marinheiros de quem gostamos a nunca naufragarem.

Pode ser que um dia voltes a este porto ... talvez noutra Expedição.
 
By Joana @ 3:45 da tarde |


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