Quando cheguei à praia, o mar revoltou-se só para mim. Ainda consegui ver a bandeira vermelha a ser asteada, como um sinal elevado bem alto. Ignorei-o. Tive apenas um bocadinho de bom senso, que me fez não mergulhar, para não molhar o cabelo: reentrar no escritório com ele molhado poderia levar à remoção da minha cabine telefónica.
De repente, e sem aviso prévio, chegou o vento. Com força, como é habitual aqui no Guincho. Olhei para o relógio. Se o tivesse feito 5 minutos mais tarde, teria chegado atrasada. Agradeci ao vento o aviso e resolvi apanhar uma boleia sua até ao escritório.
- Sabes, quando alguém se afasta, é porque não gosta de nós na quantidade certa: ou gosta de mais, ou gosta de menos, disse-me ele, assim do nada, como que a ler os meus pensamentos que dançavam longe dali.
Agredeci as palavras sábias e a boleia. Tínhamos chegado. Foi tão rápido!
Passei novamente pela cabine e entrei no escritório um minuto antes do patrão.
A minha camisa vermelha está a colar-se ao corpo, por causa do sal. Devia ter dado ouvidos ao mar, como ao vento. Se não posso confiar em mim e no meu instinto, tenho de aprender a ouvir os sinais que me enviam e a deixar-me empurrar e puxar pelas forças da natureza.