Já tinha tirado os óculos quando esta história começou.
"Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de Maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe
(...)
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou"
Lembro-me de muito pouco. Recordo-me que vesti a minha gabardine (lá fora chovia a potes), que peguei no carro e fui o mais rápido que podia. Já estava atrasada para a consulta. Lembro-me também do Doutor me ter dito que o meu coração estava muito grande (nem sabia como eu tinha sobrevivido tantos anos assim) e que ia ter de operar de urgência. Lembro-me do olhar dedicado do enfermeiro, e depois só me lembro de adormecer. Desta vez não sonhei.
As marés sucedem-se continuamente. O tempo não pára. O movimento de ida e volta das águas parece perpetuar tudo o que nelas e delas vive. Será que tudo o que vai.... volta?