terça-feira, agosto 29, 2006

Encontrei-o quando o julgava já de partida. Afinal nunca chegou a ir embora. Subiu apenas três lances de escada, e ontem acenou-me lá de cima com um sorriso já usado.

Com palavras mágicas pequeninas mas incisivas, que falavam de vestidos de princesas e desejavam boa viagem, puxou-me quase até ele. Flutuei até ao segundo andar.... e fiquei a pairar ali.

Talvez com uma ajuda tecnológica, consiga chegar um bocadinho mais acima... Tentei. Até pedi auxílio ao Buda, mas infelizmente não resultou. Voltei a descer. Tudo isto ao ritmo desta melodia que não me sai do ouvido, como se estivesse a dançar.

E ando aqui neste jogo, a subir e a descer, sempre a tentar chegar lá acima, à sua mão. Nem que seja só para lhe tocar, assim, levemente...

Para a próxima jogamos à apanhada, mas deixa-me ser eu a fugir.
 
By Joana @ 1:16 da tarde | 2 notas com outras assinaturas
quinta-feira, agosto 24, 2006
Foto: Ewa Brzozowaska

Levo de volta tudo o que trouxe. Saudade e pouco mais. Ou tanto, mas que numa comparação de grandezas se torna microscópico.

Volto a guardar tudo na caixa, fecho à chave, baralho o código e escondo-a debaixo da cama.

Hoje a caixinha está mais cheia, porque guarda também a memória de dois sorrisos. O meu foi desenhado pelo teu, quando, com um brilho no olhar de uma alegria quase infantil, voltaste a voar.

Talvez um dia poises aqui, mais pertinho de mim. Se isso acontecer, será que podes desamarrar-me só uma mão? É que assim nem consigo escrever...

 
By Joana @ 11:57 da tarde | 2 notas com outras assinaturas
Foto: Rui Bonito
21 de Agosto

Apesar de estar de férias, saí de casa a correr. Amarrado ao portão verde, estava um enorme balão cor-de-rosa. Com o entusiasmo de uma criança, agarrei-o com toda a força que tinha (e que não tinha). E lá fui eu... puxada pelo balão cor-de-rosa.

A minha casinha amarela ia ficando cada vez mais pequenina, até que deixei de a conseguir distinguir no meio de tantas outras (foi nesta altura que me lembrei que me tinha esquecido dos óculos).

Subi, subi... Para onde me leva, Sr. Balão?

Um pouco abaixo das nuvens, voava uma enorme coruja branca, que assobiava uma melodia familiar. Eu acenei-lhe a sorrir e ela piscou-me o olho, como quem diz "seja bem vinda cá acima, menina. E já agora faça uma boa viagem... "

A coruja foi ficando mais pequenina, e as nuvens cada vez mais próximas... mais próximas... mais... mais distantes, lá em baixo. Tão pequeninas.

Olhei para cima, e lá estava ele. Rodeado apenas de azul, o Sol. Às vezes as coisas mais simples são as mais bonitas. Durante dois dias, fiquei só agarrada ao balão, assim, bem pertinho do calor. Não dormi. Não comi. Fiquei quietinha a absorver esta energia que só ele me dá e a contemplar esta paisagem que julgava já extinta.

Olhei o Sol pela última vez, dei-lhe um abraço que quase me queimou e sorri-lhe.
Com a mão direita, disse-lhe adeus. Num acto consciente, abri a mão esquerda. Ainda lhe consegui tocar... e depois comecei a cair.

O Sol foi ficando cada vez mais pequenino, mais distante. Mais abaixo, passei pelas nuvens, que voltaram a formar aquela barreira até então intransponível. Ao menos agora sei a que sabem as nuvens e o que escondem por trás delas!


Acordei à entrada deste emaranhado de caminhos que não escolhi e que mais parece um enorme labirinto. Espera... é mesmo! Na minha mão esquerda (ainda queimada do Sol) encontrei uma pena branca, com uma frase sapiente escrita por cima, a tinta da China: "Vais ter que te perder primeiro, se te quiseres encontrar".

Guardei a pena no bolso e, sem medo, entrei.
Afinal, todos os labirintos escondem um Tesouro... e eu nunca tive medo de dragões.
 
By Joana @ 10:21 da tarde | 0 notas com outras assinaturas
quarta-feira, agosto 16, 2006
Foto: Karl Blanchet

Não há melhor sítio para se ir em dias cinzentos do que o terminal das chegadas do Aeroporto de Lisboa. Para além de ser um local bem giro (eu gosto, e gostos não se discutem) e de ter um carrinho de gomas logo ali no meio, é lá que vivem os maiores sorrisos verdadeiros da cidade.
Todas as pessoas que, como eu, se deixam contagiar pela felicidade alheia, encontraram naquele local bastante matéria prima para alegrar o seu dia.
Os passageiros vão chegando, por entre as portas automáticas enquanto, deste lado, familiares, amigos, namorados, maridos, amantes, filhos, tios e até cães,esperam, impacientes, como crianças. Quem vai atravessando a porta automática, vai procurando vultos familiares que, quando encontrados, iluminam um rosto que esquece assim o cansaço de algumas horas de voo.

Mas hoje é diferente. Hoje enfrento o outro lado: o terminal das partidas. A Saudade que tinha morrido lá em baixo, aqui renasce, tal e qual a Fénix, de cinzas que por vezes nem chegaram a arrefecer.

Cá vou eu, com a minha malinha cor-de-rosa, a minha guitarra às costas e o teu abraço ainda marcado no corpo.

Talvez um dia, para lá das portas automáticas, encontre o teu sorriso e o teu olhar doce no Terminal onde a Saudade morre. Talvez um dia lá estejas, com um balão e um cartaz a dizer "Welcome home!".
Depois levas-me para casa, deitas a minha cabeça no teu peito, fazes-me festinhas e cantas-me aquela canção, ao ouvido, baixinho, para me adormeceres.
 
By Joana @ 3:37 da tarde | 2 notas com outras assinaturas
terça-feira, agosto 15, 2006

[Post baseado num título que li há tempos, numa das minhas viagens pelos blogs alheios, neste caso no Com Sequências (cujo link se encontra aqui ao lado). Não há qualquer relação entre o conteúdo deste post e o desse. Espero que o autor não leve a mal o meu atrevimento, mas apeteceu-me mesmo escrever sobre isto...]




Foto: Maciej Pokora


Sol menor. Sol Maior. No fundo a diferença entre um e outro... está apenas em Si. Quem diria!


Eu quero ir para lá, sem dó. E se houver Dó, ao menos que seja sustenido... para me guiar até ao meu Lá MAIOR. (porque se o Lá for de sétima... continua a haver lugar para o meu Sol)
 
By Joana @ 1:43 da tarde | 0 notas com outras assinaturas
segunda-feira, agosto 07, 2006

... do tempo em que, com a tua caneta preta invisível, desenhavas o teu nome na minha nuca. Voltavas a deixar cair o meu cabelo e pedias-me que nunca mais o apanhasse, para ninguém mais saber. Selavas tudo com um beijo, e fugias.

Era assim que, quase todos os dias, garantias que a minha cara de sono tinha a tua assinatura.

(tenho a certeza que nessa altura eu era bem mais bonita, porque de artista não tenho nada e nunca tive jeito para o desenho)
 
By Joana @ 9:31 da manhã | 0 notas com outras assinaturas
domingo, agosto 06, 2006


Domingo. Dez e Dezoito. Decidi que hoje é o dia D, um dia para preencher apenas de Disparates. Com ou sem intenção. Com ou sem remorsos.

Vou passar o dia TODO a fazer disparates. Muitos! Muitos mesmo! E cada vez piores... e não vou contar a ninguém!


À meia-noite, volto a ser a Cinderela (ou a abóbora). Quando o meu Dia D chegar ao fim, NUNCA mais vou fazer disparates...

...

... Excepto, claro, se estiverem todos a dormir (inclusive e principalmente o meu Anjo da Guarda) e ninguém der por isso. Ou se os disparates vierem mascarados de Coelho da Alice (no País das Maravilhas) e disserem "anda, estamos atrasados".
 
By Joana @ 5:53 da tarde | 0 notas com outras assinaturas
sexta-feira, agosto 04, 2006
Recordei pela última vez o sorriso, o beijo, o abraço e a lágrima. Despedi-me de tudo aquilo que não posso, não quero, nem sei dizer.
Olhei para dentro de mim e disse baixinho, com a crença de uma criança que sonha, “aqui consigo”. No fundo, sabia que, se alguma coisa corresse mal, teria sempre a materialização de um acaso para me agarrar e não me deixar cair lá em baixo (ia doer muito).

Desta vez não chorei. Abri as asas. Já sem medo, deixei-me levar pelo movimento desta térmica e levantei voo... Cá vou eu!

"Só sei voar dentro de mim
neste sonho de abraçar
o céu sem fim, o mar, a terra inteira!
E trago o mar dentro de mim,
com o céu vivo a sonhar
e vou sonhar até ao fim,
até não mais acordar...
Então, voltarei a cruzar este céu e este mar,
voarei, voarei sem parar á volta da terra inteira!
Ninhos faria de lua cheia e depois,
dormiria na areia..."

João Mendonça, in Garça Perdida


Não sei para onde vou, mas sei onde quero chegar.

Amanhã, partir, talvez apenas para não ficar.
 
By Joana @ 12:23 da manhã | 3 notas com outras assinaturas
quarta-feira, agosto 02, 2006

Carreguei sem querer no botão da máquina que grava momentos, quando tentava apanhar o labrador preto que não parava quieto.

Na imagem, já não vi nenhuma princesa sonhadora, nem nenhuma fada a aprender a ser feiticeira. Não vi nenhum sorriso (não consegui sequer perceber se os dentes ainda estavam tortos). Não te vi perto nem longe. A ti também não. Nem a ti. Não vi ninguém. Começo a duvidar se eu própria lá estaria.


(Isto foi há três dias. Pelo sim pelo não, ontem fiz madeixas, para dar um bocadinho de brilho ao meu cabelo apagado)


Ataste-me com força em torno do teu pulso mas eu pedi-te para esqueceres o Desejo. Não era a altura certa. Hoje a minha pulseira da Expedição apodreceu e partiu-se. Vou atirá-la ao mar e cobrar o meu desejo. A partir de agora vou ter mais cuidado comigo, não quero que me aconteça o mesmo que à pulseira.

Se eu apodrecer e me partir, lanças-me ao mar e pedes um desejo?
 
By Joana @ 10:35 da manhã | 1 notas com outras assinaturas