quinta-feira, agosto 30, 2007



Foto: Onur Dincer


No ano passado, o final do Verão trouxe com ele uma surpresa: pela primeira vez, um carrossel vinha à minha aldeia. Rapidamente esqueci que a luz do sol já não era igual, que os dias estavam a ficar cada vez mais pequenos, ou que os meus encontros com o mar brevemente iriam reduzir-se a trocas de olhares.
Era uma ocasião muito especial, por isso escolhi o meu melhor vestido de princesa, e lá fui, seguindo aquela música que me hipnotizava e que vinha mesmo do cimo da minha rua. Quando cheguei, lá estava ele: um carrossel lindo, enorme, como nos filmes, cheio de figuras que preenchiam apenas os meus sonhos, iluminadas por luzinhas cintilantes que se confundiam agora com o brilho dos meus olhos grandes, ali ainda maiores, ainda mais brilhantes.

Apressei-me a escolher onde me ia sentar. Indecisa entre a girafa e o cavalinho, e com a excitação infantil de quem entra num mundo novo, acabei por escolher uma cadeirinha. Endireitei as costas, ajeitei o meu vestido e sentei-me, delicadamente e de cabeça erguida, no meu novo trono. Ali fiquei, com os pés a dançar, numa cadeira grande demais para mim. O primeiro movimento do meu carrossel fez-me soltar um sorriso novo, de quem realiza um sonho.

Dei voltas e voltas, umas mais rápidas, outras mais lentas. Ali, na minha cadeirinha, com o meu vestido de princesa, e com todas aquelas luzes, tudo me parecia maravilhoso. Nem sei quanto tempo passou até adormecer.

Um dia, sem nunca parar de rodar, o meu carrossel levantou voo e mostrou-me novos sítios, algumas nuvens que eu ainda não conhecia e também umas estrelas que pensava não existirem. Ensinou-me a descobrir a melhor forma de me ver ao espelho, a ver Mundos do avesso e a gostar de coisas que até ali, mesmo sem provar, dizia não gostar. Um dia levou-me até uma fada que cantava baixinho: "Round and round carousel / Has got you under it's spell / Moving so fast but going nowhere". A melodia, como tantas outras, ficou-me no ouvido. Sorri ainda mais por saber que o meu carrossel era uma excepção.

Acordei. O meu vestido de princesa já não me servia. Tinha o corpo dorido, numa cadeira onde já nem cabia. Cresci muito. Olhei em volta, e reconheci o cimo da minha rua. Ainda consegui sentir a última volta do meu carrossel... cada vez mais devagar... até parar. As luzes apagaram-se, a música calou-se.

Eu levantei-me. Sem hesitar, rasguei o pedaço do meu vestido que me apertava. Agora já não é de princesa, mas gosto muito dele. Escolhi outra cadeira. Maior. Como eu. E sentei-me, à espera...


Foi desta forma que descobri que, por vezes, os carrosseis param... é inevitável. Só assim poderão rodar para o outro lado. (e essa sim, vai ser uma viagem emocionante que eu não vou querer perder)
 
By Joana @ 2:55 da manhã |


2 Notas com outras assinaturas:


@ 9/07/2007 6:18 da tarde,assinado por Anonymous Anónimo

Apenas uma pergunta...

"Apressei-me a escolher onde me ia sentar. Indecisa entre a girafa e o cavalinho, e com a excitação infantil de quem entra num mundo novo, acabei por escolher uma cadeirinha."

Se tens a hipotese de escolher de entre 2 opções que te agradam, porquê então acabar por escolher outra coisa? ...ou melhor dizendo... Porque é que achas que na vida todos (acho) fazemos sempre essa opção?

Bjs,

 

@ 9/18/2007 11:38 da manhã,assinado por Blogger Fakru Zaruret

Hello.. i am "onur dincer" the photographer of the carousel :)
i wish i knew spanish to understand it! bye!!