
... andei descalça na rua, só porque sim, e já dormi calçada.
Já comi gelados no Inverno e bebi chocolate quente no Verão.
Já descobri que as lágrimas sabem a mar, apesar de não saber porquê e de achar que isso não faz qualquer sentido. Já ri sem razão, durante horas.
Já fugi, mas também já corri atrás de quem nunca se deixa apanhar.
Já deixei a roupa pendurada no estendal durante 2 dias, à espera da melhor altura para a apanhar (foi assim que descobri que, por vezes, "a melhor altura" é sempre "ontem" ou "amanhã").
Já estive sozinha no meio de amigos e já me encontrei num olhar desconhecido.
Já andei de eléctrico em Lisboa sem querer chegar a lado nenhum. Já estive no miradouro da Graça em noites quentes de Verão a tocar guitarra. Já tive saudades.
Já fui aplaudida de pé.
Já escrevi notas musicais numa parede, e descobri que afinal não faziam qualquer sentido. Já tive medo de ter medo.
Já vi o nascer do Sol num país longínquo.
Já andei de limousine, calcei as minhas sandálias douradas e usei o meu melhor sorriso... só porque tinha de ser.
Já recebi promessas que ficaram por cumprir (um abecedário quase inteiro) e surpresas memoráveis.
Já descobri que o infinito afinal não passa de um símbolo matemático e que o vazio, afinal, é muito mais do que isso.
Já caí de cabeça e não senti nada, e já me desfiz por dentro estando perfeitamente imóvel. Já fiquei sem palavras quando tinha tanto para dizer.
Já subi à Torre Eiffel e fui à Eurodisney (em sonhos).
Já cantaram só para mim. Já sussurrei ao ouvido de alguém.
Já fui palhaço por um dia e princesa por uma semana... e aprendi que o Tempo afinal só existe nas nossas cabeças.
Já construí um Mundo com uma forma estranha, nada esférico, nada simétrico, mutável, sempre igual a si próprio... e guardei-o só para mim.
Hoje quase descobri que este meu Mundo é pequeno demais para mim... e grande demais para nós dois.