[...com um beijo. Assim termina o luto.]

Com o tempo, fui construindo o meu próprio calendário. A cada dia, associo um acontecimento: Um sorriso, uma alegria partilhada, uma estrela cadente, ou apenas uma canção.
O dia de hoje... apaguei-o. Não sabia o que fazer com ele, por isso pura e simplesmente deitei-o fora. O meu calendário tem menos um dia que todos os outros. O tempo agora passa mais depressa.
Raramente olho para trás. Quando o faço, vejo tudo desfocado. As memórias, guardei-as numa caixinha prateada, que não voltarei a abrir. Basta-me saber que lá estão, que foram reais e que me fizeram crescer. Fica esta ruga, obra de muitos sorrisos, para não me esquecer de mim cada vez que me vir ao espelho.
Com tanto e tão pouco, contruí outro caminho, outra estrada. Escolhi outros companheiros de viagem, outra bússula, outro mapa, outros destinos e outras rotas. Encontrei outras razões para sorrir, para chorar e para registar na memória. Desenhei outro arco-íris, tracei outros horizontes e cantei outras canções. Inventei outro Sol, outro Céu, outra Lua e outras Estrelas.
Não é melhor. Não é pior. É diferente.
Encontrei-te por acaso. Demos um abraço, mas não dissemos nada. Pediste-me o meu telefone. Fingi escrevê-lo nas costas de um bilhete de metro, que dobrei para não veres. Não escrevi o número. Apenas uma frase: "A soma de duas pessoas sozinhas não dá duas pessoas acompanhadas". Sei que entendes.