segunda-feira, julho 10, 2006


Gosto de andar por aqui no Outono e de ouvir as folhas secas estalarem debaixo dos meus pés. Quando cá venho, vou andando devagar, absorvendo tudo aquilo que esta cidade, em tudo idêntica ao meu Mundo, tem para me dar.
Hoje trago duas telas e o meu cavalete, e ainda não decidi o que vou fazer com tudo isto.


No braço direito, trago a tela grande, há muito acabada, sem mais por onde pintar, mas da qual ainda não tive coragem para me desfazer. Ela continua sempre a acompanhar-me ao longo destes passeios pelas margens do Sena, porque tenho demasiado orgulho desta obra, tão cor-de-rosa, tão cheia e tão complexa, que fui pintando devagar com os pincéis e o coração em sintonia quase perfeita. Hoje olho para ela e, no meio dos desenhos toscos, consigo descobrir-me em vários traços. Por vezes não consigo evitar pensar que "talvez, ali naquele cantinho, ainda possa pintar mais qualquer coisa...". E pintar por cima, será solução?


No braço esquerdo tenho a tela quadrada, onde tu e eu fizémos um esboço perfeito. O preto e branco da grafite parece ficar ali tão bem como as ténues pinceladas de côr com que o fomos preenchendo. Vejo este esboço tão perto da perfeição, que tenho até receio de lhe tocar; Qualquer traço que nele faça sozinha irá certamente estragá-lo. Mas não esqueço que não passa de um esboço. Não tenho ainda sequer coragem para o mostrar a ninguém, de tão inacabado que está!

Vou ficar sentada naquele banco ali ao fundo (Vês? Ali,onde agora está um senhor a tocar violino), à espera que chegues com a tua caixa de aguarelas coloridas numa mão e um lápis de grafite na outra e me ajudes a decidir o que fazer a esta tela. Posso esperar, tenho tempo. Gosto de ficar aqui na margem, só a olhar para as minhas telas e a ver a memória brincar com a imaginação até chorarmos as três de Saudade. Paris será sempre Paris...
 
By Joana @ 11:45 da manhã |


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