quinta-feira, junho 08, 2006

"Aviso já que venho contrariada!". Foi esta a frase que disse às minhas amigas quando, no meu vestido cobre e com o cabelo mais ou menos penteado, entrei na sala do baile.
Elas foram dançar e eu sentei-me numa cadeira bem pertinho do canto da sala, e ali fiquei a observar quem lá estava e a imaginar as razões que os levariam a tal. Vi a viuva que procurava uma razão para sorrir (será que encontrou?), a menina loira com o olhar cheio de esperança e uma pose de princesa (à espera do príncipe que nunca chegou) e a senhora casada que, no seu vestido vermelho, tentava convencer-se que a vingança era a melhor solução para os seus problemas.
No canto oposto da sala, estava uma pessoa com um ar de quem não podia ali estar (metade rapaz, metade homem), que olhava em volta e, tal como eu, não dançava. "E o senhor, clandestino, o que será que está aqui a fazer?". Quando o nosso olhar se cruzou, ele levantou-se e começou a caminhar em direcção a mim. Ao ritmo da música, dava dois passos à frente e um atrás. "será que está a dançar? ". Quando começaram a tocar a valsa, ele encurtou o passo e começou a dar três para a frente... mas dois para trás (e uma pausa para manter o ritmo)... "Por esse andar nunca mais cá chega, senhor", pensei.

Finalmente chegou ao pé de mim. Olhou-me nos olhos... e eu deixei. Pegou-me na mão e eu deixei. Penso até que me beijou com o olhar (mas isso já não tenho a certeza). Com um tom cordial e numa voz que nunca imaginei que fosse a sua, perguntou "A menina dança?".


Naquele dia não dancei. Estava cansada. "Talvez noutro dia", disse-lhe.

A resposta ao "quando?" do olhar tom verde-triste-escuro foi "um dia".

Talvez um dia, se este vestido ainda me servir e o mar ainda existir; Quando todas as nuvens forem passageiras e a palavra "adeus" já tiver morrido de saudade.
 
By Joana @ 11:43 da tarde |


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