Sorrateiramente, vou deslizando até ao teu colo. Encosto a cabeça e aninho-me por ali.
A luz laranja intermitente que vem da lareira, parece ritmar os sonhos e as recordações, misturando-os numa suavidade que se estende por toda a sala e por nós dois. O frio e o escuro ficaram lá fora, e vão batendo de vez em quando na nossa janela. Acho que não querem entrar, mas insistem em lembrar-nos que lá estão.
Tu passas-me a mão pela cabeça, com a ternura do costume. Eu agradeço com um fechar de olhos lento, de quem há muito se rendeu ao teu tocar. Este colo é um porto seguro quando estou assim, sossegada, em paz comigo, contigo, connosco, com os outros. Nestas alturas, essas mãos já não são amarras, mas sim uma leve brisa que vem do mar e que conta histórias que me fazem dormir e sonhar.
Hoje quero apenas ficar aqui, com esta luz e neste calor. Sei que amanhã vou acordar, dar-te um beijo e partir. Sei que amanhã voltarei a morrer.
Ainda me restam quatro vidas, por enquanto posso dar-me a estes pequenos luxos. Depois?... Logo se vê...